sábado, 19 de fevereiro de 2011

Algumas biografias e o chimas de sexta à noite

Sempre achei fevereiro um mês murrinha, talvez o mais murrinha do ano. Não é janeiro, quando temos todas aquelas promessas de este-ano-vou-fazer-tudo-diferente, que na prática nunca vingam, nem março, quando as coisas teoricamente começam a acontecer, e podemos procrastinar mais um pouquinho as tais promessas que jamais serão cumpridas. Enfim, na próxima sexta-feira, completam-se 15 anos da morte de meu conterrâneo Caio Fernando Abreu (alguma homenagem que ainda não estou sabendo?), e acho que a melhor maneira de manter a chama acesa da literatura é lendo e escrevendo. Terminei faz pouco a biografia do Ozzy, achei um pouco decepcionante, não como artista, mas como pessoa – talvez porque o cara tenha ficado sóbrio simplesmente por ficar, não porque acredite nisso, e ainda por cima debocha dos vários que escolheram seguir essa filosofia, ignorando os milhares que morrem por causa de álcool & drogas todos os anos (lembremos que Ozzy é um formador de opinião), o que não acontece com Eric Clapton, por exemplo, que assumiu como propósito de vida seguir abstinente e ajudar outras pessoas a encontrarem o mesmo caminho (e como é sexta-feira de noite, faz um calor horrendo e estou tomando chimarrão, digamos que eu tenha um certo apreço por pessoas abstêmias). Ou talvez tenha me decepcionado também porque Mr. Madman simplesmente tenha virado um milionário megalomaníaco, praticamente uma vez por ano muda de mansão, e não se cansa de esbanjar dinheiro, inclusive para comprar suvenires nazistas, o que é duplamente enfadonho - lembremos que sua esposa Sharon tem descendência judaica.

Ainda sobre biografias, estava namorando a da Clarice Lispector, estou com um cheque-presente para descontar, mas as três maiores livrarias daqui devem ter feito um cartel, porque há poucos dias encontrei um desconto considerável no livro, e agora estão todas com o mesmo preço – caro, aliás. Por outro lado, comecei a ler Como falar dos livros que não lemos?, a deliciosa e genial provocação de Pierre Bayard, discorrendo com argumentos substanciais sobre Livros que não conhecemos, Livros que folheamos, Livros de que ouvimos falar e Livros que esquecemos, provando que são tênues as fronteiras entre a leitura e a não-leitura. Aliás, nem precisa ler o livro para falar dele, o que não deixa de ser irônico.

E estamos para começar a contagem regressiva para o glorioso Outono – praticamente um mês para o sol entrar em Áries, e novas Águas de Março nos aguardam além do horizonte. Enquanto isso, seguimos resistindo.