sábado, 31 de março de 2012

Millôr Fernandes & Os Bons Tijolos

− O que move um cara, durante 43 anos, das 7 da manhã até às 8 da noite, enquanto os outros fazem surf etc., o que faz com que este cara escreva? Que tipo de obsessão é essa?

− Não, mas peraí! Primeiro, não é obsessão, é profissão. Como os outros ganham a vida no mercado financeiro, o português ganha a vida no seu armazém, eu estou ganhando a minha vida. Exatamente: eu estou ganhando a minha vida. Tem aqueles que ganham a vida dignamente, e os que ganham indignamente. Eu estou procurando vender um produto. É aquela história que a gente já falou, a história do bom tijolo. Eu estou fazendo o meu tijolo, e só entrego o que acho que está bom. Pode até estar ruim, mas eu não estou achando que está ruim, não. Além disso, não foram 43 anos confinados. Enquanto isso, graças ao bom Deus, eu tive enormes paixões, eu namorei as moças, eu viajei, eu fui e voltei, eu corri riscos, tive medos e muitas alegrias. Tudo isso ainda me dá o lucro marginal de estar aqui com vocês: oportunidade que eu obtive com o meu trabalho, na minha vida.

Millôr Fernandes, em entrevista a revista Oitenta, da L&PM, setembro de 1981.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ornette Coleman & Trabalho

O gosto pela escrita cresce à medida que se escreve.
Erasmo de Rotterdam

O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever.
Thomas Mann

Ouvi ontem pela primeira vez o endiabrado Ornette Coleman, considerado um charlatão por alguns e um gênio por outros. Um rebelde do jazz, que quis pensar fora da caixa, e fez história com aquilo que passou a se chamar Avant-garde jazz, que - mesmo não sendo para qualquer ouvido - ganhou muitos seguidores, e ainda está tocando regularmente, com 82 aninhos.

Segunda semana do glorioso outono, e por isso mesmo um convite para a AÇÃO. Ontem no troca-troca de livros, trouxe A Better Way To Live do Mandino, que li metade na maravilha da madrugada silenciosa passada (pena que nem sempre dá pra fazer isso. As madrugadas foram feitas para a literatura). Tomo uma erva-nativa ecológica - e depois vou estrear café novo - enquanto o trabalho engrena, e temos bastante trabalho. Para este exato momento. Li uns trechos do Surdo Mundo, aqui ao lado do monitor, que me colocaram óleo nas engrenagens cerebrais, aquelas capacitadas a dar ritmo e fluência a um texto, e temos que consertar o diálogo entre Carol e o velho do truque da balinha (como é difícil escrever e soar natural), e então concluir a segunda versão da primeira de três partes de um dia muito longo na vida de alguém.

Vamos que vamos.

quarta-feira, 7 de março de 2012

As Seis Regras do Sucesso de Arnold Schwarzenegger

Já sei que ninguém vai ler, então nem vou perder meu tempo traduzindo. O caso é que hoje, em rápida conversa com meu partner-in-crime, estava falando sobre as seis regras do sucesso de Arnold Schwarzenegger, e falei sobre o vídeo do discurso no youtube, e outros vídeos inspiradores, e falei da quinta e mais importante regra, sem a qual as outras não valem: work your butt off (ou: senta a bunda na cadeira e escreve!), e ele me disse algo como tu fica vendo vídeos no youtube em vez de seguir as regras do Schwarzenegger, e tive o despertar de que preciso produzir hoje, neste exato momento, que é o que estou fazendo e preciso fazer todos os dias. E disse que em uma próxima oportunidade falaríamos sobre Wayne Shorter, eu que estou há dias com Pay as you go na cabeça, e ele disse para eu ouvir o Schizophrenia, que vai ser a trilha de hoje. A trilha desta revolução de manter a chama acesa, enquanto contamos os dias para a chegada do outono, e da esperança que o friozinho traz depois de dias modorrentos. A revolução do work your butt off, de se puxar para fazer a coisa acontecer.

Então abro o arquivo no qual estou trabalhando a segunda versão da narrativa longa com a história de Carol, neste ponto se afastando do mendigo do cachorro-quente. Estou exausto no momento em que escrevo isso, depois de uma manhã pegadíssima na Red Cross (quarta-feira é o dia mais puxado do ambulatório), mas como não podemos deixar um sonho escorrer pela mão, e se não quero ser póstumo como Nietzche ou Pessoa, é melhor continuar escrevendo, e honrar as 6 rules to success. Com constância, disciplina e perseverança. Nem que seja um pouquinho todo dia, se esse for o meu possível, mas nem um dia sem um pouco.

sábado, 3 de março de 2012

Leituras em março & new jazz

Enquanto o minuano vem chegando devagarinho e provo novos cafés, começamos o mês em que tem início o glorioso outono, e hoje estreei o presente que ganhei com duas joias do new jazz: os bem interessantes Matthew Halsall e Austin Peralta. Mas tenho que deixar o som bem baixinho, pois já não bastava os livros que tinha na lista de leitura dos próximos meses, este março vem chegando com importantes aquisições literárias. Falando em jazz, temos na fita a biografia de Charles Mingus e, de volta à literatura, a biografia de Clarice. Ganhei hoje também mais um Llosa, e vou reler o Robôs, Bombas e Mutantes, que li quando tinha dez anos, e um dos livros da série O Executor, que sempre namorei na época que a revista do círculo do livro povoava minhas fantasias infantis, que foram o prenúncio da literatura que viria mais tarde. Tenho uma dívida eterna com as histórias de aventura, e tenho certeza que não escreveria hoje, e sobretudo não estaria escrevendo em um começo de madrugada de sábado, se não fossem aquelas histórias. Aliás, como lembrou Assis Brasil, nos idos de 99, no primeiro dia de oficina, quando eu disse que gostava de escrever aventura, as duas primeiras histórias do mundo ocidental são aventuras.

Mas isso tudo depois de terminar Rimas da Vida e da Morte, que está me fazendo pensar em uma voz mais sagaz para recontar a história de Carol, que aliás faz dias que não pego. E vou aproveitar para pesquisar no clássico acadêmico Aspectos do Romance, outro presente. Aquecendo os motores para terça, quando começo a nova oficina do Diego.

Enfim, muito trabalho pela frente.

E isso me deixa feliz.