domingo, 22 de abril de 2012

A nova música do Rush e um pouco de Miles

Descobri agora.

A nova música do Rush, Headlong Flight.

O disco novo, Clockwork Angels, sai dia 12 de junho.

Como disse o baterista e professor André Gonzalez, quando eu tiver 60 anos espero ainda ter essa energia.

Sem esquecer a trilha desta segunda metade de abril, Miles ao vivo, com Herbie Hancock e a lenda Tony Williams (então com 19 anos) na bateria. Com uma das minhas preferidas, o mega-clássico Joshua.

Play it loud.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Louca da Casa

"Não conheço nenhum romancista que não sofra do vício descontrolado da leitura. Somos, por definição, bichos leitores. Roemos as palavras dos livros incessantemente, como a carcoma emprega todo o seu ser ao devorar madeira. Além disso, para aprender a escrever é preciso ler muito; por exemplo, George Eliot tinha uma vastíssima cultura e lia Homero e Sófocles em grego e Cícero e Virgílio em latim: eu sou incapaz de semelhante proeza e esta pode ser uma das razões pelas quais escrevo pior que ele. Em seu precioso ensaio Letra Ferida, Nuria Amat propõe aos escritores uma pergunta cruel que consiste em decidir entre duas mutilações, duas catástrofes: se, por alguma circunstância que não vem ao caso, você tivesse que escolher entre nunca mais escrever ou nunca mais ler, o que escolheria? Nestes últimos anos formulei esta inquietante questão, na base da brincadeira, a quase todos os autores com quem me encontrei pelo mundo afora, e descobri duas coisas interessantes. A primeira é que a esmagadora maioria deles, pelo menos noventa por cento e possivelmente ainda mais, escolhe (escolhemos: eu também) continuar lendo. E a segunda é que esta brincadeira aparentemente inocente é um bom revelador da alma humana, porque tenho a sensação de que muitos dos escritores que dizem preferir a escrita são pessoas que cultivam mais o seu próprio personagem do que a verdade."

"Falar de Literatura, então, é falar da vida; da própria vida e da vida dos outros, da felicidade e da dor. E é também falar do amor, porque a paixão é o maior invento das nossas existências inventadas, a sombra de uma sombra, a pessoa adormecida que sonha que está sonhando."

Rosa Montero, in: A Louca da Casa, ed. Agir.

Levantando cedo no feriadão de Páscoa, que tradicionalmente traz revoluções por aqui, tomando um chimas, curtindo Blakey - et voilá -, escrevendo. A maravilha que é o nascer do dia, silencioso enquanto meus vizinhos não começam os barulhos diários que impedem a leitura, e as coisas da vida me chamam para suas urgências, é quase tão maravilhoso quanto a quietude e onipotência da madrugada. Entretanto, quando falamos de disciplina, não adianta. Tenho que me contrariar e ir dormir cedo (antes da 1 da matina) e levantar bem cedo (e disposto) e escrever. Fazer meus tijolos, como o texto do Millôr ali debaixo.

Lembro que o brilhante Gilberto Scarton, o melhor professor que tive em meus distantes tempos de Famecos, e o cara que me incentivou a fazer oficina, me falou sobre A Louca da Casa. Levei mais dois ou três anos para querer ter o texto por aqui. Os livros nos encontram. E assim como existe algo de mágico no encontro entre duas pessoas, existe algo de mágico no encontro de uma pessoa e um livro. Neste blog errante, em que pessoas anônimas visualizam os posts todos os dias mas jamais deixam comentários, vou esticando as frases, e abro o arquivo com a história de Carol, na qual venho trabalhando a segunda versão e agora consegui concluir a primeira de três partes. Nenhum dia sem uma linha, diziam os antigos. Um dos meus chefes, aquele que me cobra produção e resultados, é o texto. Chego atrasado, passo dias sem trabalhar, ele me dá uma dura. Duríssima, eu diria. Mas ele não desiste de mim. E eu não desisto dele. Não dá pra desistir, não é mesmo? Nével, como diria o Claudiomiro. Nével, nével, nével. E fico escrevendo, tateando as palavras, pensando em como começar a tarde de Carol, que recém saiu do almoço, já sei que vai rolar um encontro com Garibaldi na Rua Profana de novo: aos dias de glória. Hmm, a coisa está voltando.

Com licença, mais tarde eu volto. O dever me chama.